terça-feira, 30 de agosto de 2016

LUNGO DROM

kalbelia

Nossa historia começa ha mais de dois mil anos atras,na Índia. Segundo os mais renomados antropólogos,estudiosos e, e claro,ciganos,nosso povo originou-se na Índia, sendo um grupo muitos discriminado que nunca conseguia seu local de respeito na sociedade hindu (algo muito próximo aos dalits) . Em dado momento,fomos então expulsos das cidades indianas,sendo forçados a vagar,como nômades,através do deserto. Inicia-se ai,nossa saga.


Ghawazee

Alguns afirmam que ciganos da região de Punjab teriam sido feito escravos por guerreiros invasores muçulmanos,o que contribuiu para a diáspora cigana.  Ha registros de que durante as invasões turco-persas,50 mil prisioneiros foram feitos nas regiões de Punjab e  Sindh. Provavelmente,aqueles que fugiram,não desejaram voltar a Índia,mas sim,viajar em busca de melhores terras e condições de vida. Isto teria ocorrido por volta do ano 1000,quando atravessaram  a região que hoje compreende Afeganistão,Irã,Armênia e Turquia.

A partir da chegada na Pérsia,os ciganos dividiram-se em dois grupos.O primeiro seguiu para o oeste e alcançou a Europa através da Grécia,o segundo dirigiu-se para o sul,alcançando regiões como Síria,Egito e Palestina.

Ciganos sempre sofreram com o preconceito por onde quer que passassem,sendo inclusive o termo cigano uma derivação de uma palavra grega( atsigani) que significa 'não toque'. Este preconceito levou a uma historia dolorosa de intensas perseguições,sendo feitos escravos quase no mundo inteiro,inclusive sendo duramente marcados pelo Porrajmos,o holocausto cigano,durante o período da Alemanha nazista.

A perseguição maciça dizimou mais de meio milhão de nosso povo tão intensamente que,quando a guerra acabou,não haviam sobreviventes ciganos. 

O Porrajmos ainda e algo pouco conhecido pela maioria dos não ciganos,refletindo,mais uma vez, o descaso e discriminação para com este povo. 



Ciganos em campo de concentração






Simbolo que marcava os ciganos nos campos de concentração. A letra 'Z',significava Zigueuner.





Hoje,infelizmente,pouca coisa mudou,pois continuamos sendo vitimas de forte preconceito,vivendo a margem da sociedade em todos os países, Calons vivem no Brasil e são enterrados como indigentes por falta de documentos,pois,ao seguirem a tradição de dar a luz sob a tenda,surge a impossibilidade de um registro civil,somente reconhecido quando o parto e realizado em maternidade convencional. Vivendo o que se diz,um Brasil invisível.



Calons brasileiros


Porem,nem tudo e tristeza. O Brasil,ainda assim e o pais que melhor convive com os ciganos,tendo,inclusive, reconhecido um dia como o Dia Nacional do Cigano,no dia 24 de Maio,juntamente as comemorações do dia de Santa Sara. Ha projetos de cultura voltados direta e inteiramente para os ciganos,como o Premio Culturas Ciganas e o projeto Tenda-escola,que leva educação para crianças,jovens e adultos para os acampamentos. Ha um cenário de interação cultural rico e harmonioso,e,mesmo em meio a velhos preconceitos,estamos cada vez mais alcançando espaço e respeito.
Cigana do Rajastão

Possuímos nossos dons,nossas fogueiras,que nos aquecem tanto quanto os abraços carinhosos de nossos irmãos,agitamos nossa bandeira e dançamos esperançosos,pois como o compasso de nossas melodias nos faz lembrar,apos a tristeza sempre ha a alegria de um novo dia!

Opre Roma!!!


Bandeira Cigana







segunda-feira, 29 de agosto de 2016

 SASTIMATA!





Sastimata!!!Boas vindas a todos! Este é o primeiro post, portanto traz um breviário da historia de nosso povo e do blog em si. A necessidade e dificuldade em encontrar fontes e material de pesquisa fiel e seguro a respeito de nossas tradições me fez começar a pensar neste projeto,que,por muitos anos,protelei por simples receio de como isto seria visto por ciganos e gadjons, alem do tolo receio de pensar que,por não possuir formação publicitaria e jornalistica alguma, isto faria com que eu não tivesse capacidade de criar paginas,blogs,livros,enfim...mesmo vendo que estes cresciam de maneira exorbitante a cada dia...rsrs. Por fim,algumas amigas,dentre elas a professora e coreografa Ruth (cujo alem da longa amizade de mais de 15 anos, faço parte da companhia), a dançarina e erveira Nice Nunes,cigana sinteza (também conhecidos como manoush), e,mesmo que de maneira indireta, a dançarina,coreografa e professora Nilza Leão (por sua paixão e seriedade na pesquisa das danças folclóricas de origem cigana), conseguiram fazer com que todos os medos,incertezas e inseguranças caíssem por terra...Certamente,nem elas sabiam no que estavam ajudando...rsrs.

Vamos,então, ao que interessa!!! Primeiramente, uma breve apresentação. Meu nome e Leila Costa,sou cigana de família andaluza e marroquina, o que alguns chamam de moura,e desde muito jovem estudo e pratico danças de origem cigana,como zambra ( a despeito do que contradizem alguns,e uma dança de origem cigana, dita assim por todos os nossos mais velhos,sem exceção),kalbelia,ghawazee,sulukule,chocek,tchiftdelli,karsilama,manea,zeibek,kawlya,romane,ka-romane,dentre outras. Estudei dança do ventre com algumas renomadas professoras,como Lulu Sabongi,Hayet Xerfan e Sofia Fahd, o que me trouxe mais domínio de algumas técnicas, alem de dança afro,Ballet clássico,moderno e contemporâneo,estes últimos estudados durante minha graduação. Optei pela graduação em dança,o que me trouxe,verdadeiramente,uma outra visão a respeito de nossas danças e,deu o primeiro insight sobre a necessidade de estudos e divulgação acadêmicas a respeito das danças ciganas tradicionais. Ainda recordo o primeiro dia de aula,onde todos estavam muito felizes por poder seguir uma licenciatura plena em dança em uma universidade publica federal, cada um com seus conhecimentos técnicos em danças clássicas,e,la estava eu,a cigana. Jamais esquecerei o quanto me senti frustrada ao ouvir de meus colegas que minha dança não tinha técnica. Isto foi suficiente para que eu solicitasse uma pauta para dar aulas de dança cigana,como minha atividade de extensão,provando a todos os que,com muita dificuldade,conseguiam acertar uma combinação de passos dentro do ritmo musical,que nossa dança possui e requer muitos anos de técnica e estudos para sua perfeita execução.

Gostaria de deixar claro aqui,que não desmereço técnica alguma,assim como espero que qualquer um que se considere um pesquisador serio de dança,não o faça.

A partir deste primeiro ponto,me vi em uma missão de fazer com que nossa dança deixasse de ser, tao erroneamente,desmerecida. E aqui esta,o que penso ser mais um grande passo.

Este blog,traz a todos os que buscam aprofundar seus conhecimentos,informações sobre cultura cigana, abrangendo danças, tradições, culinária, herbarium, musica, enfim... Esta e a Tsara de Sara,ou Casa de Sara. Aqui,todo aquele que busca e entra com amor sera muito bem vindo.