Então seguimos!
Continuemos a partir daqui a tentar explicar um pouco a trajetória de nosso povo através da dança. Recapitulando que saímos da Índia, aqui já tendo sido mencionadas as danças de origem indiana que ainda são praticadas na região, banjara, kalbelia e tera taal.
Sigamos então com nossa longa caminhada através do mundo e da dança cigana. Entretanto, para entendermos melhor este processo de 'mesclagens' que a dança cigana passa a sofrer, necessitamos conhecer alguns conceitos mais aprofundados acerca do estudo acadêmico da dança,que nos ajudam a perceber e entender o motivo de nossa dança conservar a mesma raiz, independente do estilo ou local onde for praticada.
Vamos ao primeiro conceito que é o de Memória Corporal Afetiva. Tive contato com este conceito quando na faculdade, trazido a mim por sua idealizadora, a pesquisadora-bailarina-intérprete Rosângela Colares. O conceito é bastante simples de ser entendido e absorvido, nos trazendo à reflexão que cada ser humano traz suas memórias em seu corpo, mesmo que inconscientemente. Vamos entender melhor...
Desde o momento de nossa concepção, ainda no ventre materno, sentimos e assimilamos todo o mundo exterior. Vozes, sons, e, até mesmo, movimentos. Imagine então, uma mãe cigana que canta suas canções tradicionais típicas, recebe todo o cuidado que uma cigana recebe em seu período gestacional e, é claro, dança alegremente nas festividades das quais participa. O feto, no interior do ventre de sua mãe ouvirá e sentirá tudo o que se passa lá fora através dos hormônios e sensações transmitidas por sua mãe. Seu pequeno corpo, sua pequena mente guardarão aquelas sensações para que, simplesmente, recorde das mesmas quando for estimulado em seu cotidiano. Assim acabamos por ouvir que a criança tem o jeito de dançar da mãe, do pai, da tia, do avô, etc, que se mescla a sua personalidade ganhando novas formas. Ao longo de sua vida, a criança permanecerá em contato, cada vez mais direto, com influências de seu círculo familiar, construindo-se assim o estilo de dança próprio de sua família, impregnado por sua memória corporal afetiva.
O segundo conceito é o de Empatia Muscular. Apresentado a mim por Márcia Dib, através de Nilza Leão. Empatia, segundo o dicionário, é a capacidade emocional de compreender um objeto, ou ainda, a capacidade de projetar a personalidade de alguém em um objeto, de forma que este pareça impregnado por ela. Pode ser ainda a capacidade de sentir o que o outro sentiria. Neste caso, nos prenderemos à personalidade projetada em um objeto. Agora vamos entender...
O segundo conceito é o de Empatia Muscular. Apresentado a mim por Márcia Dib, através de Nilza Leão. Empatia, segundo o dicionário, é a capacidade emocional de compreender um objeto, ou ainda, a capacidade de projetar a personalidade de alguém em um objeto, de forma que este pareça impregnado por ela. Pode ser ainda a capacidade de sentir o que o outro sentiria. Neste caso, nos prenderemos à personalidade projetada em um objeto. Agora vamos entender...
O conceito de empatia muscular está presente em pessoas, animais e paisagens. Retornando à infância, desde pássaros a seres humanos absorvem as sensações do meio em que vivem, adaptando suas necessidades ao seu corpo. Vamos pegar o exemplo do pássaro... O pássaro necessita voar, quanto mais alto o seu ninho, quanto mais dificultoso for o seu local de acesso, melhor e mais firme será seu voo. Isto acontece pelo fato de sua musculatura perceber, através do constante exercício, a força e o movimento necessário para que ele possa voar com segurança. Logo, um canário jamais voará como uma águia careca americana, pois as influências que cada um recebeu e desenvolveu em sua musculatura são completamente diferentes. Cada um traduziu para o seu corpo as necessidades do meio em que vive. Isto é empatia muscular.
Agora vamos traduzir isto para a dança.
Vamos observar um pouco o cotidiano das ghawazee e de outras ciganas nômades que precisam buscar água em lugares distantes diariamente. Este processo, normalmente, começa ainda muito cedo, uma vez que uma mulher a mais, mesmo que criança, significa um jarro a mais, que por sua vez significa mais água para a tribo. Sua musculatura deverá se adaptar a vários fatores. A melhor maneira para se abaixar, a força necessária para puxar o jarro cheio de dentro da água, a força necessária para erguer o jarro cheio do precioso líquido sem derramar uma única gota, o equilíbrio para manter o jarro no alto da cabeça, aliado à força muscular para suportar o peso, e, por fim, a resistência muscular do corpo todo para retornar ao acampamento com o jarro cheio de água no alto da cabeça. Ao longo de sua existência, seu corpo estará cada vez mais adaptado ao movimento cotidiano, traduzido por seu tônus muscular. Logo, uma dançarina que não possua este contato, dificilmente carregará um jarro, durante uma dança, da mesma maneira que uma beduína tradicional, pois o corpo da nômade e da bailarina possuem registros diferenciados em seus corpos. Posto assim, o ideal ao se praticar uma dança típica, seria tentar vivenciar um pouco do cotidiano tradicional. Não estou dizendo que vamos para o meio do deserto buscar água debaixo do sol escaldante para saber como é, longe disso, mas se for para apresentar algo típico, por exemplo com o jarro, podemos, pelo menos, ensaiar com o mesmo cheio de água, na tentativa de tornar o gestual da dança mais fiel o possível. Experimente, por exemplo, ensaiar um ghawazee em um terreno arenoso. A diferença para uma superfície lisa é gritante. A execução de certos passos torna-se até mais difícil.
Dias atrás, tive a oportunidade de estudar um pouco de dança cigana de estilo espanhol. Como já mencionado, sou de família moura, tendo como vivência comum, as danças originárias do Oriente Médio e Marrocos. Isto fez com que eu encontrasse sérias dificuldades corporais para endurecer meu gestual, pois a empatia muscular impregnada em meu corpo o fez acostumar-se ao gestual leve das mesmas, ao contrário do gestual hispânico. Entretanto, ao seguirmos para movimentos de busto, ombros e saias, a dificuldade desapareceu, uma vez que estes estão presentes em, basicamente, todos os estilos de dança cigana.
A partir destes dois conceitos entendemos, então, que nossos corpos e mentes, trazem impregnados um gestual próprio e comum, adaptando e traduzindo para nossa dança o gestual dos locais por onde passamos e isto faz com que, não importa de onde venha ou onde esteja, nossa dança seja reconhecida como dança cigana!
Parabéns pelos esclarecedores textos; é preciso mais que nunca desmitificar e desmistificar a História, Arte, Cultura, Tradições e Costumes dos Roma. Você está prestando um grande serviço para a Comunidade Cigana do Brasil e para as Danças Ciganas.
ResponderExcluirBravooooooooooooo
Ruth Santana
Gratidão!
ExcluirGratidão!
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